O Miguel demorou muito para falar. Alguns dizem que devido ao contato com duas línguas, outros acham que ele teve pouco contato com outras pessoas e já ouvi até que a culpa é minha. Na minha opinião não foi nada disso. Claro que eu cometi erros e ainda os cometo, mas a verdade é que cada criança tem seu tempo e só quando ela está preparada é que vai falar, andar, pular e correr por ai. As pessoas tem mania de rotular, generalizar, comparar e esquecem que ninguém é igual a ninguém. Por causa da demora da fala, ele se tornou agressivo na escola. Não conseguia se expressar com palavras, ia lá e mordia, empurrava e se agarrava com qualquer um que lhe tomasse um brinquedo. Alemão não tá acostumado com isso. Foram logo dizendo que isso não era normal e encaminharam ele para tratamento.
Foi em médico especializado em desenvolvimento, psicóloga, faz terapia com psico-pedagoga e fonoaudiologa e ainda tem uma pessoa na escola para tomar conta dele e fazer a integração dele com as outras crianças. O governo paga quase 800 euros para essa educadora acompanha-lo por 8 horas na semana. Sinceramente, acho um pouco de exagero. Mãe conhece o filho que tem e eu conheço o meu. Sei que ele não tem problema nenhum, mas eu prefiro pecar por excesso que por falta. Ter um super acompanhamento não vai fazer mal, pelo contrário, só vai ajuda-lo a desenvolver e a vencer suas dificuldades ainda mais rápido, sem falar que isso acaba ajudando demais no aprendizado do alemão.
Eu tenho tido vários problemas na escola dele. Eles não aceitam que o Miguel vá todos os dias, apenas nas 8 horas em que a "babá" dele está lá. Então ele acaba não tendo uma rotina e passa pouco tempo em contato com a língua alemã. A explicação deles é que são 26 crianças para duas educadoras tomarem conta e como ele exige um pouco de atenção, é pedir demais que elas ainda tenham que cuidar dele e dos outros. Eu não entendo e os médicos dele entendem menos ainda. Todos são unânimes em dizer que o Miguel não tem problema nenhum e que só precisa ter contato com outras crianças e com a língua alemã e que só indo na escola e se integrando é que ele vai parar de "brigar". Então todos me pressionam a pressionar a escola e a forca-los a aceitar que ele vá todos os dias. Já viram o dilema pelo qual to passando, né?
Hoje teve reunião na escola. A terapeuta intercedeu, dizendo que ele é muito inteligente e que é capaz de resolver problemas como uma criança mais velha. Que conhece os números, algumas letras, todas as cores e formas, desenha e corta bem para a idade dele, isso sem ninguém ensinar na escola, pois aqui se começa a ensinar a criança bem mais tarde. Segundo a terapeuta ele já está como um "vorschulkind" (criança pré-escolar o que aqui seria uma criança de 5 ou 6 anos). Que ele já está falando melhor, já mostra sua personalidade, já sabe o que quer e consegue se impor sem agressividade. E a escola continua dizendo "não". Diz que ele precisa de mais tempo e que a gente precisa esperar. Que ele é muito novo, que as vezes é agressivo ( e sempre vai ser por que bobo ele não é e já aprendeu a se defender das outras crianças que também podem ser agressivas quando querem), que são muitas crianças, que ele fica muito cansado na escola e todas as desculpas que podem dar.
Sabe, eu nunca me abri aqui. Sempre guardei dentro de mim as dificuldades que tenho enfrentado para encontrar o melhor para o meu filho, e confesso que nem sempre é fácil. Eu lutei e luto muito para superar as barreiras que surgem, para encorajá-lo e para me encorajar também. As vezes são tantas pessoas apontando as minhas falhas como mãe, criticando o meu jeito de educar e achando que poderia fazer melhor. Educar não é fácil não. A gente erra mais que acerta e nem adianta alguém dizer ou te indicar um bom livro. Não existe manual que te mostre o caminho mais fácil. Não é fácil educar um filho. Estar fora do lugar onde você cresceu e
longe de tudo o que você aprendeu, torna a tarefa ainda mais complicada.
Se você for seu primeiro filho então... ufa! Vai ser uma tarefa
árdua, uma batalha por dia para se vencer.
Qual o melhor caminho então? Eu poderia procurar outra escola, como já me aconselharam, mas tenho que pesar as amizades que ele fez e o quanto uma mudança ia mexer com a cabecinha dele. Eu poderia bater o pé e exigir, afinal eu estou pagando e uma criança da idade dele tem direito de estar na escola. Eu poderia seguir tantos caminhos, mas devo pensar e repensar e escolher o que me parece melhor para o meu filho e claro nem sempre o escolhido será o melhor. Quem dera se tivéssemos todas as respostas! Educar um filho requer tanto amor, tanta paciência e tanta sabedoria.
Mas, como diz uma grande amiga, existe o tempo da prontidão e ele vai chegar para o Miguel. Tempo em que ele vai estar preparado para tudo o que ele precisa estar e não importa se para ele demorar um pouco mais ou menos. A minha maior tarefa agora é estar ao lado dele, o conduzindo e não permitindo que tantas cobranças façam mal para ele. E esperar em Deus, com paciência e amor, o tempo dele. E pedir que Ele me dê sabedoria para criar meus filhos no caminho certo, para que os pezinhos deles não venham nunca a se desviar, por que para mim essa sempre será a coisa mais importante, não importa o que digam por ai, nesse mundo de tantas cobranças e esteriotipos.
Uau, para quem estava sumida eu apareci e escrevi pra um mês! ;)